Escritor ou Educador?
O ano de 1975 foi, com certeza, marcante em minha vida pessoal e profissional. Enquanto me preparava para gerar meu primeiro filho, ingressava – por opção – na carreira do magistério, inexperiente em ambas funções, numa época em que corpo e mente amadureciam para produzir em duplo sentido; o primeiro, dando existência a outro ser; já o segundo, fazendo brotar um novo cidadão por meio do conhecimento cognitivo e do desenvolvimento de sua capacidade produtiva.
Aprendi com meus alunos, na sala de aula, que o mestre é também aquele que aprende; por isso, fiz desse espaço o caminho para formar e solidificar grandes e verdadeiras amizades, lembradas e comungadas a cada encontro e reencontro em dias atuais.
A diversidade da clientela a que ministrava aulas ampliou e enriqueceu minha labuta diária, aguçou minha sensibilidade e desenvolveu habilidades que – por vezes – não estavam contidas nos livros nem nos procedimentos didáticos de sua metodologia.
O profissional professor deu passos largos, avistou carências disciplinares e adaptou-se às reivindicações do sistema de ensino em busca de especializações e títulos, atendendo às exigências que se apresentavam (e apresentam) maiores do que o reconhecimento à aplicação de investimentos intelectuais e financeiros da classe.
Foi o exercício do magistério que despertou e desenvolveu minha inclinação para a arte e a necessidade de escrever, invertendo, desta feita, os papéis, buscando fontes de pesquisas, produzindo e registrando textos oriundos de um conhecimento que se renova e se amplia a cada leitura de mundo e de livros.
O desabrochar para a literatura aconteceu em 1996, quando renasci para a fantasia poética que transbordava em meus sentimentos, deixando ainda frestas para a prosa, que se me apresentava ingênua e insistente, espontânea e intencional, crítica e emotiva.
Atiçavam-me os gêneros, provocavam-me os leitores (que me cobravam novas produções), enquanto me debruçava a escrever as linhas que compunham novos textos em função de diversos temas. A cada edição esgotada, os relançamentos e reedições surgiam como impulsos e incentivos para novas ações criativas, mesmo em meio às atividades pluralizadas pela diversidade profissional e vida doméstica também atuante.
O convívio com o público estudantil variado lançou-me um novo desafio, tão inesperado quanto mágico: o livro infantil. Apesar de nunca ter planejado ser autora de livros para crianças, abracei a ideia como uma simples forma de homenagear esse novo público que me acolhia com carinho, fazendo despertar em mim a menina esquecida no tempo, que não possuía dinheiro sobrando para comprar livros nem viajar pelas histórias dos contos de fadas…
Assim, eu me encontro em cada personagem criado pelos meus contos e recontos; em cada poema vazado pela saudade ou pela ironia ou, ainda, pela fantasia que permeia minha “realidade inventada”; em cada crônica reflexiva ou crítica, num misto de subjetividade e denúncia social que se fundem na voz do educador.
Por isso, creio que a vida do educador tem a mesma serventia que a do escritor; afinal, ambos educam e se dirigem a um público que lhe é especial: o aluno-leitor.
Para agradar o educador, presenteie seus alunos com livros; para agradar um escritor, forme bons leitores!!!!