• FERNANDO IÓRIO, O VÔO DO PÁSSARO

    Postagem publicada em 22 de março de 2012 por em Everaldo Damião, Textos Literários


    Everaldo Damião, advogado e jornalista.

     

    Em sua última crônica – “O pássaro e o homem na ramagem que range”, publicada oito dias depois da sua morte, o escritor, poeta e professor, Fernando Iório Rodrigues, bispo emérito de Palmeira dos Índios, diz bem quem ele era. Um homem igual a um pássaro: “o pássaro livre e feliz continua a cantar mesmo quando a ramagem range, porque confia nas asas”. Tal como o pássaro, Fernando Iório não temia o desafio, não se alarmava com o tempo, não se desesperava com os fatos. Se ele sentia angústia, tristeza ou desilusão, guardava para si. Não revelava a ninguém o seu descontentamento, mas quando questionado por um amigo íntimo sobre o sentimento vivido, ficava sério e balançava a cabeça em tom afirmativo. Essa era sua revelação, sua forma de confissão. Testemunhei, por vezes, esse comportamento do padre, escritor e poeta maceioense. Tanto em Palmeira quanto em Maceió, gozei da sua gentil e agradável amizade. Sensível, simpático e possuidor de grande imaginação, Iório também possuía um instinto paternal, solícito e protetor com a família e com os amigos. Era um homem de muita fé e confiança em si.

    Em 12/07/1985, fui o primeiro radialista palmeirense a entrevistá-lo, após a sua posse como bispo de Palmeira dos Índios. Ele atendeu ao nosso convite e compareceu ao nosso programa diário – “Ponto de Encontro”, na Rádio Educadora Sampaio. Durante meia hora, indaguei-lhe sobre fatos da sua vida, como seu ingresso no Seminário; suas atividades na Rádio Educadora Palmares e no jornal “O Semeador”, órgãos da Arquidiocese de Maceió; sua missão na Paróquia de Bebedouro; seus livros; sua família; sua ordenação episcopal, entre outros assuntos pertinentes à Diocese que ele iria administrar.

    Cauteloso, perspicaz e emocionalmente desembaraçado, Fernando Iório revelou que sua mãe, Júlia Barbosa Rodrigues, havia nascida em Palmeira dos Índios, e que se casou com seu pai, Miguel Iório, um descendente de italiano, da região da Calábria. Disse-nos Fernando Iório que ele nasceu em 23/6/1929 na Ladeira do Brito, numa casa de nº. 11 (ao lado da atual “Casa da Palavra”), mas os anos seguintes da sua infância aconteceram na Pajuçara. O mesmo bairro onde Fernando Iório faleceu, em 20 de março de 2010.

    Em Bededouro viveu sua adolescência e foi pároco da Igreja de Santo Antônio de Pádua, onde permaneceu por 31 anos. No Colégio Liceu Alagoano estudou seus primeiros anos e foi escolhido pelo Arcebispo, D. Adelmo Cavalcante Machado (1905-1983), para ingressar no Seminário de Maceió. Foi o Bispo quem pagou seus estudos a partir dos 12 anos de idade, já que ele tinha interesse em ser sacerdote. Vocação essa despertada pelos bons exemplos dos padres seculares, Antônio Monteiro (grande orador e tribuno) e Adelmo Machado (mestre erudito, conhecedor de literatura e de poesia).

              Em 6/3/1985 foi nomeado Bispo de Palmeira dos Índios pelo Papa João Paulo II, após indicação de Dom Miguel Fenelon Câmara. Sua ordenação episcopal ocorreu em 29/5/1985, na Catedral Metropolitana de Maceió. No dia 30/6/1985 tomou posse na Diocese de Palmeira, que havia sido criada pelo Papa João XXIII. Na Terra dos Xucurús, Dom Iório permaneceu por 21 anos, mais tempo que seus antecessores. Amante do futebol (“azulino” desde criança), da música e da poesia, ele sabia ser fidalgo e fidedigno. Na dedicatória que ofereceu para mim, no seu livro “Livre Gorjear”, ele escreveu: “Para Everaldo Damião com o desejo de que seja livre como “gentil”, o meu Canário. Cordialmente, Fernando Iório”. Gentil (até parece nome de gente) era como se chamava o seu canário. Por fim, diz o poeta e saudoso bispo: “Voa, Gentil, corre no espaço livre dos passarinhos, não fiques só no meu quintal que é restrito, limitado para a liberdade de teu gorjeio libertador, porque consciente estou de que: jamais amaremos alguém, enquanto não lhe dermos a liberdade de nos amar”… Pensemos nisso! Por hoje é só.

    Crônica escrita pelo confrade Everaldo Damião sobre Fernando Iório Rodrigues