• Na Casa de Graciliano Ramos

    Postagem publicada em 25 de novembro de 2012 por em Textos Literários

     

    Crônica publicada no jornal GAZETA DE ALAGOAS, em 17 de novembro de 2012, de autoria do Sócio Honorário da APALCA Dr. Marcos Davi Melo.

     

    Na Casa de Graciliano Ramos

    O professor da rede pública, Edmilson Silva, um vigoroso cadeirante, estava elegantíssimo, vestindo passeio completo, a postos lá no fundo do íngreme e superlotado auditório da Casa de Graciliano Ramos em Palmeira dos Índios, museu que é dedicado ao Mestre Graça e que tem ainda vários degraus que dificultam a circulação dos presentes. Mesmo assim, quando o terceiro lugar em prosa foi anunciado o contemplando, ele voou em sua cadeira até a mesa que presidia os trabalhos, sem ligar para os obstáculos, sob o aplauso e o delírio da plateia que lotava o recinto.

    A entrega desse e de outros prêmios ocorreu sexta- feira da semana passada, na Academia Palmeirense de Letras e Artes (APALCA), e encerrava mais um ano de produtivos trabalhos, com a premiação de estudantes e professores do município que participaram de mais um Concurso Literário Rosinha Pimentel. Presente com meu filho Marcos Virgílio, pude observar como,  enfrentando todo tipo de dificuldades, mas com muita dedicação e tenacidade, se consegue – em uma época dessas, quando as escolas se veem ameaçadoramente envolvidas por drogas e violência -, motivar e mobilizar a comunidade escolar para algo tão especial e tão distante das mazelas de nosso tempo, como a literatura.

    A cada premiação que se fazia, fosse a prosa ou poesia, a plateia entrava em êxtase: palmas; gritos; sob vibração febril, torcidas organizadas por professores e por estudantes. Não imaginava poder existir em época tão dura e difícil como essa, em qualquer lugar do mundo, tamanho espaço para a literatura, principalmente em uma cidade pequena como Palmeira.

    A professora Isvânia Marques e seus confrades da APALCA, com sua envolvente paixão pela literatura, em muito honram o nome e a memória do seu patrono maior, o Mestre Graça, que mesmo não sendo em vida um aficionado declarado de academias, era em seu aparente retraimento e secura, um homem movido por sincero e delicado afeto. Não por outra razão declarava: “Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões”.

    Com Marcos Virgílio, cedinho voltei no outro dia para Maceió, mas não sem antes passar por recantos e lugares que marcaram a minha infância e fazem parte da minha mais preciosa memória afetiva. Absolutamente convicto que Mestre Graça, caso pudesse estar presente, sentir-se-ia plenamente agraciado com as atividades que ora se desenvolvem na Casa que lhe é dedicada. Os devotados membros da APALCA conseguem provar que a literatura é tão importante para o espírito quanto a atividade física o é para o corpo.         * Dr. Marcos Davi Melo