Crônica publicada no jornal GAZETA DE ALAGOAS, em 17 de novembro de 2012, de autoria do Sócio Honorário da APALCA Dr. Marcos Davi Melo.
Na Casa de Graciliano Ramos
O professor da rede pública, Edmilson Silva, um vigoroso cadeirante, estava elegantíssimo, vestindo passeio completo, a postos lá no fundo do íngreme e superlotado auditório da Casa de Graciliano Ramos em Palmeira dos Índios, museu que é dedicado ao Mestre Graça e que tem ainda vários degraus que dificultam a circulação dos presentes. Mesmo assim, quando o terceiro lugar em prosa foi anunciado o contemplando, ele voou em sua cadeira até a mesa que presidia os trabalhos, sem ligar para os obstáculos, sob o aplauso e o delírio da plateia que lotava o recinto.
A entrega desse e de outros prêmios ocorreu sexta- feira da semana passada, na Academia Palmeirense de Letras e Artes (APALCA), e encerrava mais um ano de produtivos trabalhos, com a premiação de estudantes e professores do município que participaram de mais um Concurso Literário Rosinha Pimentel. Presente com meu filho Marcos Virgílio, pude observar como, enfrentando todo tipo de dificuldades, mas com muita dedicação e tenacidade, se consegue – em uma época dessas, quando as escolas se veem ameaçadoramente envolvidas por drogas e violência -, motivar e mobilizar a comunidade escolar para algo tão especial e tão distante das mazelas de nosso tempo, como a literatura.
A cada premiação que se fazia, fosse a prosa ou poesia, a plateia entrava em êxtase: palmas; gritos; sob vibração febril, torcidas organizadas por professores e por estudantes. Não imaginava poder existir em época tão dura e difícil como essa, em qualquer lugar do mundo, tamanho espaço para a literatura, principalmente em uma cidade pequena como Palmeira.
A professora Isvânia Marques e seus confrades da APALCA, com sua envolvente paixão pela literatura, em muito honram o nome e a memória do seu patrono maior, o Mestre Graça, que mesmo não sendo em vida um aficionado declarado de academias, era em seu aparente retraimento e secura, um homem movido por sincero e delicado afeto. Não por outra razão declarava: “Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões”.
Com Marcos Virgílio, cedinho voltei no outro dia para Maceió, mas não sem antes passar por recantos e lugares que marcaram a minha infância e fazem parte da minha mais preciosa memória afetiva. Absolutamente convicto que Mestre Graça, caso pudesse estar presente, sentir-se-ia plenamente agraciado com as atividades que ora se desenvolvem na Casa que lhe é dedicada. Os devotados membros da APALCA conseguem provar que a literatura é tão importante para o espírito quanto a atividade física o é para o corpo. * Dr. Marcos Davi Melo