Isvânia Marques
É fim de ano…
Vivemos as emoções finais de mais um ano que acaba, que se retira para dar lugar ao novo, ao inusitado, às sensações não experimentadas e desejadas. Vivemos a surpresa de nos depararmos com a ansiedade da espera de um novo ano a nos invadir prematuramente, pois ainda nos encontramos verdadeiramente despreparados para recepcioná-lo. Existem ações não desempenhadas no dia a dia que vão se armazenando em nossas vidas e sendo resolvidas no dia que virá. O amanhã deixará de ser possibilidade futurista para resultar em apenas serviços que deixamos de realizar.
Quanto tempo perdido! Quantas horas na inércia da desilusão, no marasmo da espera, na loucura frenética do vaivém sem propostas convincentes e dignas ao ser humano, fazendo do trabalho a rota marcante dos dias vividos sem retorno monetário; de horas cedidas gratuitamente ao governo, dando-lhe a liberdade de escolher formas de pagamento, sem a valorização dos esforços e privações, ou reiteração às condições de sobrevivência, transformando em “filantrópico” o ato de trabalhar.
É fim de ano…
Nada mudou no contexto político-social. Os homens continuam violando as leis, matando seus semelhantes, lesando os menos informados de seus direitos, sem plasmá-los ao Sistema, tornando-os anônimos e sem efeito ao processo de democratização. Crianças continuam sendo exploradas por adultos conscientes de tais abusos, e mortas numa desculpa descabida e irrelevante, como formas de “limpeza” às ruas e à sordidez infantil, sendo assim justificadas por seus algozes.
Líderes de Igrejas iludem seus seguidores, blefando os desígnios religiosos que deveriam ser respeitados. Escândalos de todos os parâmetros e segmentos da sociedade são levados à tona publicamente, abalando consciências e deixando o povo estarrecido diante de tantos desmandos e contradições. Este discernimento desperta o mais tolo dos homens, atiçando-o na sua demência e acelerando a sua revolta. Pelo menos a nós, povo, é-nos permitido repugnar, vomitar a nossa decepção em forma de desabafo; expressar nossa indignação, através do riso irônico da sociedade àqueles que ignoram a sua capacidade de assimilar a situação caótica que assola o país; e, ainda, conjeturar o óbvio e nos preservarmos de conflitos desnecessários.
É fim de ano…
A contagem regressiva já não emociona as pessoas. Não penetra fundo às novas sensações, nem provoca meditações profundas, pois estas exigem mudanças abrangentes e transformações capazes de assumir seus próprios defeitos, desvinculando-se dos mistérios, propondo-se a romper barreiras, aproximando-se do encontro verdadeiro por intermédio do diálogo, do abraço e da abastança de sentimentos superiores.
Aproxima-se o Ano-Novo: vivo, jovem e herdeiro das frustrações do velho ano, que lhe passou a sua história e o seu aprendizado. Ei-lo que chega triunfante e festivo! Não parece sábio, todavia aprendiz; igual a nós, igual a todos.
Por isso, esperamos que ele seja bem-vindo e também sejam bem-vindas as promessas às curas, às possibilidades em forma de esperança (motivada pela paz), de diálogo (sem engano nem traições) e de crédito na palavra (sem desapontamento). O equilíbrio e a harmonia haverão de comandar e auxiliar os nossos líderes em suas decisões. A Palavra deverá ser usada para o entendimento entre os homens e praticada em função do Bem, projetando serenidade e fortaleza àqueles que a proferirem; alívio e otimismo aos que a escutarem.
É fim de ano…
É tempo de paz. De amor. De perdão. De esquecer as diferenças, pois somos todos iguais em espírito, embora o homem disso se esqueça porque somente dá valor às superfícies, sem sequer desenvolver ou permitir a sua evolução, o aprimoramento de sua força interior.
Brindemos às mentes humanas, às sãs consciências e aos portadores da Esperança, porque eles emanarão a Paz tão almejada e farão deste milênio o melhor roteiro traçado em função da Humanidade.
Feliz Ano-Novo!!!