• Dom Fernando Iório – Encantar e desencantar…

    Postagem publicada em 14 de abril de 2010 por em Isvânia Marques, Textos Literários

    Isvânia Marques

    Após alguns dias de sofrimento silencioso e estéril à inspiração derivada da palavra, minhas mãos digitam letras que se juntam uma à outra ao ponto de aglomerarem palavras e mais palavras, na tentativa de expressarem sentimentos de perda acalentados pelo “jejum literário” de quase trinta dias, deportando-me à lembrança dos trinta dias em que os israelitas choraram a morte de Moisés (Dt 33-34).
    Apesar de ter pronunciado alguns depoimentos pessoais durante homenagens públicas (nas Catedrais Metrepolitanas de Maceió e Palmeira dos Índios), como também um depoimento pessoal ressaltando seu valor perante esta aprendiz, (desde a Universidade Federal de Alagoas até a minha experiência à frente da Academia de Letras), considerava-o meu eterno Mestre e Mentor espiritual e cultural.
    Quando fui sua aluna, sua sabedoria me inibia ao ponto de simplesmente admirá-lo em sua oratória, no uso de recursos literários que rebuscavam e encantavam a todos nós, em seu linguajar expressivo e permeado de metáforas.
    Anos mais tarde, quando o destino fez de mim um profissional professor e, com mais audácia, uma autora de textos diversos, desfrutei da honra de vê-lo apresentar várias de meus escritos, tanto em Palmeira dos Índios como em Maceió, ficando nítida na memória sua mensagem proferida no antigo Shopping Iguatemi. Era 18 de abril (de 2007), dia consagrado ao Livro Infantil. A praça de eventos apresentava-se repleta de estudantes mirins, contadores de histórias, professores, além de um espaço decorado de palmeiras e personagens artesanais indígenas que simulavam a aldeia xucuru-cariri, enquanto Dom Fernando, sentado no centro da “oca”, encantava-se com o público infantil e o sucesso do evento. Segundo ele, aquela foi a primeira vez em que preparou um texto exclusivo para crianças na tentativa de incentivá-las para o mundo fantástico do livro infantil.
    Quatro anos antes, na Bienal do Livro que ocorreu no Iate Clube Pajuçara (acredito que foi em 2005), nesta capital, invertíamos o papel, pois era eu quem fazia a apresentação da 2a. Edição de seu livro,”Pequenas histórias, grandes lições”, no stand das Editoras Paulinas, diante de uma plateia digna dos méritos que a mim foram equivocadamente atribuídos, embora me sentisse embevecida pela emoção e responsabilidade que me transformavam, naquele momento, tal qual a descrição do seu canário belga, “prepotente e capaz de acorrentar toda a plenitude do cantar maduro”, retratado em seu livro Livre Gorjear.
    Percebi, daí em diante, que o tesouro maior da amizade não está respaldado na beleza das palavras, nos títulos outorgados. ou na inteligência aguçada, mas na essência de sua universal transcendência, na confiança conquistada na simplicidade de agir, assim como na percentagem elevada de valores que certamente nâo estão à mostra.
    Por isso, do amigo, do conselheiro, do Pastor, do pai (em tantos momentos, e para tantos), além do grande Educador e baluarte da cultura palmeirense,  acato como legado por ele deixado para todos nós a sua lembrança eternizada no bom exemplo e no estilo marcante,  quer no seu ministério sacerdotal (conforme lembrou Dom Dulcênio), quer na sua vida pessoal e acadêmica.
    Se o mar da Pajuçara vai balançar suas ondas para lhe embalar, certamente as nossas palmas das palmeiras vão se agitar num aceno constante de quem aprendeu a amar…