Poesia DÉCIMAS PARA GRACILIANO, do Prof. Cosme Rogério (Categoria VERSO), vencedora do V Concurso Prosa e Verso Professora Rosinha Pimentel.
Frágil corpo, suportando alm’ardente
Como a ponta do cigarro entre seus dedos
Na escrita, exorcizou os seus segredos
Desde menino, filho de amor ausente
E, quando homem, feito um caeté descrente
Não ergueu nenhum castelo de areia
Deparou-se com a chave da cadeia
Fez das letras trincheira de resistência
Cultivando a virtude da decência
Na esperteza tão humana de Baleia
Sai do âmago da terra essa agonia
Esse limite que encarcera o ser humano
É o silêncio de um pobre Fabiano
Que na cidade grande se angustia
Carne que, em mil pedaços, se fatia
E respinga neste chão onde pisamos
E as dores que, no peito, carregamos
Em sua arte ganham nova dimensão
Essa imagem de homem rijo do sertão
É a face de Graciliano Ramos
Da coisa pública, a zelar com retidão
Tal testemunho o relatório eterniza
E nas cartas de amor a Heloísa
Devotamente abriu todo o coração
Das memórias nordestinas, guardião
Aos esquecidos da história, se irmana
A liberdade, defende e não se engana
Por tudo e mais, eu canto hoje a figura
Desse grande mestre da literatura
Essa joia da cultura alagoana
Cosme Rogério