Maria Lúcia (Luíza) Duarte

CADEIRA Nº 10

ACADÊMICO: Alberto Leão Maia

Maria Lúcia (Luiza) Duarte era filha de tradicional família palmeirense. Nasceu no povoado de Palmeira de Fora, em 15 de Abril de 1863 e era filha de Manoel da Costa Duarte, mais conhecido como Coronel Dezinho e de dona Cândida Avelino Duarte. Ele foi um homem que se destacou no município e, apesar de ser proprietário de mais de 20 escravos, era um abolicionista convicto. Foi, também, um ferrenho inimigo da Monarquia e membro do Clube Republicano de Palmeira dos Índios, aonde chegou a ser presidente. Outra vertente de sua família foi apresentada pela paranaense Izabel Brandão, na antologia “Escritoras Brasileiras do Século XIX”, organizada por Zahidé Lupinacei Muzart e apresentada por Nádia Bartella Gotlib, onde afirma que ela era filha do capitão José Vieira Sampaio e Capitulina Clotildes Alves Vieira.
Nas pesquisas de Byron Torres sobre as Famílias Palmeirenses, ele encontrou dados que apontam ter sido ela a segunda filha do primeiro casamento do ex-intendente Luiz Pinto de Andrade com Maria Hortência Duarte Pinto de Andrade.
Sua infância foi como a de qualquer criança de sua idade, principalmente vivenciando uma comunidade paupérrima e sem muitas opções. Como seu pai tinha posses, na adolescência foi estudar na capital alagoana e foi daí que começou a sua nobre carreira literária.
Após terminar com distinção o curso de Magistério no Colégio Liceu de Maceió, tentou se matricular em uma das faculdades do país, sem sucesso. Inconformada pela realidade do Brasil da época, fundou na capital alagoana o Colégio Ateneu Alagoano e o destina ao sexo frágil, onde ensinou as primeiras letras e noções de artes de acordo com a educação da época. Casou-se com Antônio de Almeida Romariz, do qual ficou viúva, com apenas vinte anos. Depois, casa-se outra vez, e desta feita com José Francisco Duarte. Mesmo vivendo em uma época em que as mulheres eram, simplesmente, as donas de casa, ela buscou entre seus amigos da intelectualidade uma forma de se promover nesse mundo seleto e rígido só dos homens. Foi, talvez, a forma de com seu pai se destacava no meio em que vivia que a incentivou a enfrentar novas barreiras.
Em 1887, ela participou ativamente na “Revista Alagoana”, um periódico que circulou na capital por um bom período e no ano seguinte, em 1888, ela fundou o “Almanack Literário Alagoano das Senhoras”, considerado, na época, como a primeira revista dirigida ao sexo frágil no Brasil.
Na história desta alagoana há uma série de dados controvertidos. O primeiro é o seu nome grafado incorretamente (segundo Izabel Brandão) como Maria Luíza Duarte. Esse problema data de 1900, quando Sacramento Blake, em seu “Dicionário Bibliográfico Brasileiro”, possivelmente por um erro tipográfico, trocou “Lúcia” por “Luíza”, deixando, assim, o nome de uma intelectual do Século XIX à mercê de uma confusão histórica.
O segundo dado controvertido é ainda a respeito do nome da escritora, hoje atrelado como “Patrono” à Cadeira Nº10 da Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes.
Veio a República e ela caiu no anonimato. Alguns registros foram encontrados sobre suas atividades nesta época em que se promoveu. Apesar deste período difícil, ela encontrou forças para enfrentar o poderio dos homens. Foi, realmente, uma grande mulher e uma grande palmeirense.
Na pesquisa em que Izabel Brandão realizou no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), foi possível descobrir alguns documentos raros de uma história que pouco a pouco vem sendo retirado de seu silêncio secular e que permitem assegurar que o nome verdadeiro da escritora é de fato Maria Lúcia Duarte e não Maria Luíza Duarte, esta última uma doceira listada na seção “Indicador Profissional” no “Almanack Literário Alagoano das Senhoras”.
A primeira, Maria Lúcia Duarte, a escritora, continua Izabel Brandão, tem seu nome elegantemente caligrafado no topo da página de rosto do único exemplar hoje existente no IHGAL do Almanack Literário Alagoano das Senhoras de 1889, ano II, volume dedicado à Princesa Imperial, medindo 12 x 17 cm e com mais de cem páginas e que fica trancado num armário de aço.
O Almanack Literário Alagoano das Senhoras para 1889 teve entre suas colaboradoras muitas escritoras, algumas alagoanas, outras de outros Estados da Federação Brasileira. Algumas delas conhecidas nacionalmente, tais como Francisca Izidora, Francisca Clotilde, Inês Sabino, entre outras, que contribuíram com textos em prosa e versos. Maria Luiza (Lúcia) Duarte informa que recebeu correspondências do Brasil e do exterior, tecendo cumprimentos pela publicação do Almanack. Este segundo número homenageia a Princesa Isabel e reproduz o texto da Lei Áurea. Há também artigos sobre a situação política do Brasil (Brasil Livre), bem como uma relação dos Beneméritos do Abolicionismo.
Os primeiros textos de Maria Luiza (Lúcia) Duarte que puderam, até o momento, ser resgatados foram duas narrativas curtas em prosa poética intimista “Só” e “Ella…”. O primeiro texto é parte do Almanack Literário Alagoano das Senhoras, ano 03, de 1889, revista direcionada ao público feminino, fundado e dirigido pela escritora em 1888. Já o segundo, “Ella…”, é de 1900, e foi publicado no “Almanack Literário Alagoano para Senhoras para 1900”, uma revista do mesmo formato da anterior, mas com novo nome e novo editor, Torquato Cabral, que informa ser aquele o primeiro ano da publicação da revista. Isso talvez indique que a revista organizada por Maria Luiza (Lúcia) Duarte não tenha tido vida muito longa nem se estendido além do Século XIX.
* Não foi encontrada a data de seu falecimento.