Lourival de Mello Motta

CADEIRA Nº 07

ACADÊMICO: Maria José Cardoso Ferro

Lourival de Mello Motta nasceu em Palmeira dos Índios, aos 09 de dezembro de 1906, filho de Leobino Soares da Motta e Adelaide de Mello Mota. Além dos seus pais, sua família era composta de 16irmãos, sendo oito homens e oito mulheres, dos quais 12 sobreviveram à infância.
A infância de Lourival foi passada na taba xucuru-kariri. Mello Motta, como ficou sendo mais conhecido, cursou o primário em sua terra natal, mas ele continuou seus estudos em Maceió, capital do estado de Alagoas, deixando para trás a saudosa Palmeira dos Índios.
Mello Motta cursou o ensino secundário em várias unidades de ensino. Iniciou no Colégio São João, dirigido, naquela época, pelo cônego João Machado de Mello. Depois estudou no Colégio 11 de Janeiro do professor Higino Belo, conceituado educador da capital. Como era tradição daquele tempo, Mello Motta prestou exames parcelados no Liceu Alagoano, concluindo o curso secundário em dezembro de 1923.
Desde criança, Mello Motta e alguns irmãos alimentaram seguir a carreira militar. Com este objetivo, Lourival chegou ao Rio de Janeiro, antiga capital da República, matriculando-se na Escola Militar de Realengo. Tempos depois, em dezembro de 1924, por motivo de saúde, desistiu da carreira militar, mas continuou morando na “cidade maravilhosa”.
Prestou exame vestibular em 1925 para a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sendo aprovado. Apesar das posses dos seus pais, Mello Motta teve que trabalhar em vários lugares para se manter na Capital Federal e custear parte dos seus estudos. Finalmente, aos 20 dias de dezembro de 1930, foi diplomado.
Por causa do período negro instaurado com a Revolução de 1930, a conhecida “Revolução dos Tenentes”, a vida da Capital Federal não ficou tão fácil, o que obrigou Mello Motta, procurando se firmar na profissão que abraçou, a retornar à sua terra natal. Em 1931, este palmeirense abriu um consultório na antiga Rua dos Italianos, atual calçadão da Rua Fernandes Lima, em Palmeira dos Índios.
A Princesa do Sertão era uma cidade onde a população era desprovida de recursos. Poucos podiam pagar os seus serviços profissionais. Com o consentimento da família, resolveu entrar na política.
Permaneceu em Palmeira dos Índios até 1934, quando foi eleito deputado estadual e resolveu fixar residência em Maceió, onde poderia exercer seu mandato sem, no entanto, abandonar a profissão. Tornou-se um estudioso na evolução da ciência médica, aperfeiçoando, por conseguinte, seus conhecimentos médicos. Permanecia no consultório até altas horas da madrugada.
Foi o pioneiro da Radiologia em Alagoas. Diziam, na época, que suas radiografias só faltavam falar. A tuberculose era uma moléstia que ceifava muitas vidas e por isso resolveu dedicar-se ao combate desta vilã, alcançando destaque neste campo. Entre 1936 e 1937, Mello Motta fez cursos na Faculdade de Medicina da UFRJ sobre tuberculose e radiologia com as maiores autoridades do país na matéria. Instalou, em seu consultório, o que de mais moderno existia em equipamentos para diagnosticar as doenças.
Membro da Sociedade de Medicina de Alagoas, foi também titular da Sociedade Brasileira de Radiologia, da Associação Médica Brasileira, do Colégio Brasileiro de Radiologia e do Colégio Interamericano de Radiologia. Admitido como sócio honorário da Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear foi, ainda, do Instituto Brasileiro para a Investigação da Tuberculose, Fellow of the América College of Chest Physicians e membro da American Trudeau Society. Médico de tuberculose do Departamento de Saúde do Estado de Alagoas tinha seu consultório particular localizado na Rua do Comércio, 495, centro, em Maceió, onde permaneceu de 13 de agosto de 1937 até dezembro de 1976, quando encerrou suas atividades, por aposentadoria. Na categoria medicina ingressou no Rotary Internacional, sendo uma das suas figuras mais expressivas. Chegou a ser governador distrital.
No magistério conseguiu o respeito dos seus ex-alunos. Agraciado como professor emérito da Universidade Federal de Alagoas foi, além de professor, um dos fundadores da Escola de Serviço Social Padre Anchieta, à qual ofereceu, para funcionar, um prédio de sua propriedade. Anticomunista por convicção, mas justo e austero na conduta, no auge do Movimento Militar de 1964, impediu a prisão de alunos seus nas dependências da Faculdade de Medicina, oferecendo proteção aos jovens perseguidos.
Mello Motta ao ingressar na política usou a imprensa como instrumento de luta. Foi sócio do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas e um dos fundadores da Associação da Imprensa de Alagoas. Como jornalista, enfrentou a estrutura do poder dominante, numa das fases mais turbulentas da vida política alagoana. Foi proprietário do jornal “Diário do Povo”, denunciando as violências do clã dos Góis Monteiro. Defendeu a União Democrática Nacional (DN) e combatia a ditadura de Getúlio Vargas. Funcionou combatendo as injustiças até que o seu jornal foi empastelado.
Foi deputado estadual por três legislaturas (1934. 1947 e 1950). Exerceu, ainda, o cargo de Secretário do Interior, Educação e Saúde, no governo de Ismar de Góis Monteiro. Durante a II Grande Guerra foi diretor-regional do Serviço de Defesa Civil Anti-Aérea. A trajetória política de Mello Motta foi uma passagem de um homem que sempre dignificou o mandato popular, um verdadeiro vulcão contra a violência e os privilégios. Nunca ficou com um centavo dos seus subsídios como deputado, doando-os, totalmente, às instituições de caridade.
Mello Motta faleceu no dia 17 de julho de 1990, aos 84 anos de idade. Assim a imprensa noticiou a sua morte: “Morreu, ontem, o médico, jornalista, escritor e ex-deputado estadual Lourival de Mello Motta”. Este palmeirense foi uma legenda política dos anos 30 aos 50, símbolo da ética e da resistência democrática contra a violência.
Não foi pranteado pelo público e pela inteligência alagoana como merecia. Eclipsada pelos acontecimentos da época, sua figura é lembrada apenas pela tradição oral ou pelo livro de memórias que publicou: “Retrato de Uma Época”