CADEIRA Nº 16
ACADÊMICO: Pedro Teixeira dos Santos
Francisco Xavier de Macedo nasceu no dia 03 de dezembro de 1881, no Engenho Olho D’Água, localizado no município de Limoeiro de Anadia, em Alagoas. Foram seus pais João Ferreira de Macedo e dona Rita Barbosa de Macedo.
Foi primeira infância foi vivida no próprio Engenho (de propriedade de seu avô) ao lado dos seus genitores e irmãos, que ali residiram por muitos anos. Aos 13 anos, foi em companhia de seus pais fixar residência na cidade do Pilar/AL, onde iniciou a instrução primária (1º grau). Decorrido um ano, seu pai se mudou mais uma vez, desta feita para a capital do Estado de Alagoas. No dia 07 de maio de 1897, o menino Francisco fez sua 1ª Comunhão, sob a orientação do Cônego Otávio Costa, na Capela Nossa Senhora do Bom Conselho, localizada no bairro de Bebedouro, em Maceió, e aqui continuou seus estudos com o Professor Valadares. Neste mesmo mês e ano seu pai, João Ferreira de Macedo, se empregou nos Correios e Telégrafos, sendo indicado para assumir o posto na cidade de Paulo Afonso/BA, para onde partiu com sua esposa e filhos. Nesta época, Francisco Xavier de Macedo contava com 16 anos.
Passado um ano, seu pai observando que seu filho tinha uma inclinação viva e um desejo ardente de seguir a carreira militar, o mandou de volta para Maceió, com o objetivo de ser matriculado na Escola Militar. Por causa de sua pouca idade e a sua baixa instrução, não foi possível realizar esse seu desejo e o rapaz continuou na capital alagoana fazendo pequenos “bicos”, só retornando para junto de seus pais dois anos mais tarde, que na época tinham se mudado para Triunfo, uma pequena cidade localizada às margens alagoanas do Rio São Francisco.
Logo depois, seu pai foi, mais uma vez, transferido para a cidade de Vila Nova, localizada do Estado de Sergipe. Francisco Xavier de Macedo seguiu para Aracaju, onde prestou o serviço militar como 2º Sargento de Polícia. Deixou o militarismo em 1901 e foi se reunir com a família na cidade sergipana de Itabaiana. O rapaz contava na época com 21 anos.
Chegando lá, recomeçou seu estudo no Ateneu Sergipano, onde fez o preparatório de Português. Em seguida, foi contratado com Censor de uma pequena Escola, sendo, posteriormente, aluno do Colégio Salesiano, na cidade de São Cristóvão/SE, entre 1901 e 1905. No ano seguinte, sob proteção do Revmº. Dom Antônio Brandão, conseguiu ser admitido no Seminário de Nossa Senhora da Assunção da Arquidiocese de Maceió/AL, onde, com muita disciplina, cursou as matérias do programa deste educandário.
No dia 15 de novembro de 1908, Francisco Xavier de Macedo recebeu a Sagrada Tonsura, isto é, cerimônia religiosa em que o prelado dá um corte no cabelo do ordenando ao lhe conferir o primeiro grau de clericato. Quatro anos mais tarde, quando demonstrou as mais vivas provas da Vocação Sacerdotal, recebeu, no dia 24 de novembro de 1912, o Subdiaconato; e em 30 deste mesmo, dia do Diaconato. Sempre a lutar entre a dúvida e a esperança, ele se preparava para ser Sacerdote do Altíssimo. Finalmente, no dia 08 de dezembro de 1912, Francisco Xavier de Macedo foi ordenado Sacerdote, pelo Revmº. Bispo Diocesano Manoel de Oliveira Lopes. Cheio de contentamento, o novo padre foi celebrar sua 1ª Missa, no doce aconchego do lar, na pequena Capela de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca.
Depois das festividades, ele regressa ao Seminário de Nossa Senhora da Assunção, em Maceió, para exercer os cargos de Capelão Interino do Colégio Sagrado Sacramento e o de Secretário particular de Sua Exa. Revma. Manoel de Oliveira Lopes.
Em 1914, Padre Macedo foi nomeado Vigário Encomendado da Freguesia de Paulo Afonso/BA, deixando marcados seus trabalhos apostólicos: Casa Paroquial e muitas capelas espalhadas nas povoações vizinhas, além da fundação de uma escola.
Em 1919, Padre Macedo passou de Vigário de Paulo Afonso a Diretor do Colégio Diocesano de Penedo/AL. Em março de 1920, o jovem sacerdote foi enviado pelo Exmo. Bispo Diocesano desta cidade ribeirinha, Dom Jonas Batinga, para assumir, interinamente, o Encargo da Freguesia de Nossa Senhora do Amparo, em Palmeira dos Índios/AL, durante a ausência do pároco, padre Joaquim dos Reis, que tinha ido a Roma visitar sua família e de onde nunca mais voltou.
No dia 09 de janeiro de 1921, Sua Exa. Revma., Dom Jonas Batinga, concedeu-lhe, definitivamente, o posto de Vigário da Freguesia de Nossa Senhora do Amparo de Palmeira dos Índios, o que foi recebido com grande alegria e entusiasmo pela população católica desta próspera cidade do Agreste Alagoano.
Padre Francisco Xavier de Macedo foi o vigésimo primeiro pároco e o terceiro vigário colado da freguesia de Nossa Senhora do Amparo. Chegou a Palmeira dos Índios no dia 12 de março de 1920 e faleceu no dia 29 de dezembro de 1963. Permaneceu à frente do pastoreio palmeirense por quarenta e três anos, sendo, portanto, o pároco a ocupar o segundo lugar entre os que por mais tempo dirigiram a Igreja Católica da Princesa do Sertão Alagoano.
Após assumir a Freguesia, padre Francisco Xavier de Macedo procurou dinamizar o catolicismo local, imprimindo-lhe velocidade à altura da religiosidade e do progresso a que fazia jus a gente palmeirense. Com campo literário, padre Macedo fundou, em 1921, o hebdomadário “O Índio”, que durou até 1925, e que por muitos anos foi o semanário que mais tempo durou em circulação em Palmeira dos Índios.
A intenção deste grande vigário foi a de oferecer aos intelectuais da Princesa do Sertão a oportunidade de divulgar seus trabalhos literários, bem como o de aperfeiçoar seus estilos, além de deixar registrado para a história o que aconteceu no município e região neste período. Neste jornal escreveram dentre outros: Luiz de Mello Motta, Orlando Duarte, Moreno Brandão, José Pinto de Barros, Graciliano Ramos de Oliveira e o próprio reverendo.
Em 1922, por ocasião do Centenário da Independência do Brasil, ele publicou “O Álbum do Índio”, onde foram prestadas várias homenagens as principais cidades alagoanas, aos grandes palmeirenses e contou parte da história do município de Palmeira dos Índios. A edição deste álbum ficou a cargo do deputado Moreno Brandão.
Este hebdomadário foi fechado por causa de uma arbitrariedade praticada pelo então Adjunto de Promotor Público de Justiça, Dr. Olival, que se sentiu ofendido por causa um artigo que seria publicado no final de semana, o qual, segundo ele, citava o seu nome e por isso empastelou o jornal. Se essa matéria existiu, ninguém sabe, pois não foi publicado na última edição deste semanário, quando o editor explica a razão do seu fechamento. Segundo padre Macedo, a medida foi tomada para não dividir a família católica, já que ele era uma “espinha na garganta dos políticos da época”.
O padre Macedo, como era mais conhecido, liderou, ao tempo da Liga Eleitoral Católica, a campanha, determinada pela Igreja Católica Brasileira, para eleger um candidato vinculado à Religião. Saiu-se vitorioso.
Ao constatar que o Templo reformado pelo padre José da Maia Mello, no Século XIX, já estava pequeno para abrigar o número de fiéis que participavam dos ofícios religiosos, revolveu proporcionar uma nova reforma. Em setembro de 1924, com a presença do governador Costa Rego, padre Macedo lançou a pedra fundamental que dava início à terceira reforma por que passou a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo. Esta reforma seguiu o projeto elaborado por Dr. José Paulino de Albuquerque Lins.
No dia 19 de abril de 1930, foi iniciada a Sagração da Capela-Mor e do Altar-Mor. Já no dia 19 de abril de 1939, foi festejada pela comunidade católica de Palmeira dos Índios a conclusão da cumeeira de toda a nave deste Templo e, no dia 13 de fevereiro de 1941, aconteceu a bênção final desta obra.
Para acomodar condignamente os padres que o sucederiam, Padre Macedo reformou o imóvel que por muitos anos abrigou a Missão Indígena e o transformou na Casa Paroquial. Atualmente, ele serve como residência oficial do Bispo da Diocese de Palmeira dos Índios.
Padre Macedo construiu, ainda, o Salão Dom Bosco, cuja inauguração aconteceu no dia 27 de outubro de 1929 e está localizado na parte traseira da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo.
No ano de 1949, quando aconteceu o Jubileu de Ouro do Apostolado da Oração, Padre Macedo realizou, em Palmeira dos Índios, um Congresso Eucarístico, que contou com a presença de várias autoridades civis e eclesiásticas, como o Governador do Estado e o Arcebispo de Maceió e que contou com o total apoio da população.
Padre Macedo também reformou e construiu novas capelas nos povoados. Isto aconteceu na comunidade do Anum Novo, em Cacimbinhas, no Olho D’Água do Acioly, na Lagoa do Caldeirão e na Serra da Mandioca.
Ele tornou ainda mais ativas a Cruzada Eucarística, a Pia União da Filhas de Maria, as Zeladoras do Coração de Jesus, as Conferências Vicentinas e as filiadas da Congregação Mariana, ensinando-lhes como é importante o catolicismo e como fazer a união social.
Para formar novas lideranças e bons dirigentes, padre Macedo trouxe duas Congregações Religiosas. A primeira foi a Congregação das Filhas do Amor Divino, fundadora do Colégio Cristo Redentor e a segunda foi a do Sagrado Coração de Jesus, que fundou o Colégio Pio XII.
O primeiro Colégio era destinado aos alunos do sexo feminino e o segundo, do masculino. Essas entidades de ensino iriam preencher muito bem as lacunas existentes no município e preparar seus alunos para ingressar nas faculdades.
Padre Macedo dirigiu ainda, as reformas por que passou o Hospital de São Vicente de Paula, o primeiro do gênero em todo o sertão alagoano. Por todos esses méritos, as autoridades eclesiásticas reconhecendo o zelo pastoral deste competente vigário à frente da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo, promoveram-no a Cônego, depois a Consultor Diocesano e, posteriormente, a Monsenhor Camareiro do Papa Pio XII. Quando já se aproximava o dia de sua última viagem, ele foi nomeado Vigário Foraneo e Monsenhor Protonatório Apostólico.
Outra intenção do Padre Macedo era a de tornar a cidade de Palmeira dos Índios a terceira Diocese de Alagoas. Motivando autoridades e o povo em geral, Monsenhor Macedo sensibilizou o Bispo da Província e o Núncio Apostólico, através de um bem fundamentado projeto elaborado pelo escritor e historiador Luiz B. Torres, onde demonstrava que a Paróquia de Nossa Senhora do Amparo estava à altura de ser Diocese. A vitória não tardou.
Dez anos depois, no dia 10 de fevereiro de 1962, foi que o Papa João XXIII aprovou esta reivindicação da gente palmeirense, através da Bula “Ad Perpetuam Rei Memoriam”. O Sacerdote paraibano Otávio Barbosa de Aguiar foi nomeado Bispo de Palmeira dos Índios no dia 04 de junho deste mesmo ano. Sua posse ocorreu no dia 19 de agosto de 1962, num dia de festa muito bem preparado pelos palmeirenses.
Enquanto isso, na reunião de 29 de fevereiro de 1959, o vereador José Rebelo Torres apresentou um projeto de Lei, que recebeu o Nº CM-04/59, o qual dava o nome de Praça Monsenhor Macedo ao largo existente diante da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo. Alguns não concordaram com este projeto, visto que o homenageado ainda estava vivo e não ficava bem colocar seu nome neste logradouro público.
Por ser um grande orador, este rábula voltou a insistir e conseguiu convencer seus pares e o projeto foi aprovado pela Câmara Municipal e sancionado pelo prefeito Robson Mendes, demonstrando o brilhante trabalho que esse missionário vem fazendo em Palmeira dos Índios nos últimos 39 anos. Ele faleceu quatro anos mais tarde.
Apesar da idade já muita avançada, Monsenhor Macedo ainda teve forças para realizar o seu último grande feito. Convocou para uma reunião todos os motoristas do município, onde não importava o tipo de veículo que dirigia. Nela, ele disse que pretendia construir uma nova Igreja e que o orago deste Templo seria o Padroeiro dos Motoristas: São Cristóvão. Esta Igreja foi construída no bairro Lagoa dos Caboclos e, quando ficou pronta, a Câmara Municipal aprovou um projeto alterando o nome do bairro para São Cristóvão e ele foi transformado na 2ª Paróquia de Palmeira dos Índios.
Nos fundos da Igreja de São Cristóvão, Monsenhor Macedo construiu uma casa paroquial e foi morar nesta residência, renunciando aquela que o abrigara por mais de 42 anos. Com esse gesto, o reverendo pároco seguiu à risca o conselho do Apóstolo Paulo: “Que ninguém busque os seus próprios interesses, mas os interesses dos outros”.
No dia 08 de dezembro de 1962, a população católica de Palmeira dos Índios rendeu mais uma homenagem a Monsenhor Macedo. Numa Missa Campal celebrada por cinqüenta padres convidados, foi comemorada as Bodas de Ouro de Ordenação do velho pároco.
Terminada a Missa Campal, todos se dirigiram ao Cine-Palácio onde ocorreram novas homenagens. Quase todos os 50 sacerdotes convidados fizeram o uso da palavra parabenizando o aniversariante. Atitude idêntica foi tomada por algumas autoridades presentes e por alguns dos seus mais fiéis amigos, dentre os quais o escritor e historiador Luiz B. Torres e o vereador e rábula José Rebelo Torres. Depois os convidados seguiram para o Aeroclube de Palmeira dos Índios, onde a comunidade ofereceu um farto almoço.
À tarde, a comunidade promoveu um belo desfile cívico, mostrando em carros alegóricos as principais passagens do velho pároco; No final deste dia, aconteceu outra homenagem, desta feita prestada pelo velho pároco: ele celebrou uma Missa para suas ovelhas, em agradecimento àqueles que o trataram com dignidade durante 43 anos.
Em 1963, já sem forças para trabalhar, Monsenhor Macedo começou a receber ajuda financeira dos amigos mais chegados. Dom Otávio Barbosa de Aguiar, Padre Odilon Amador dos Santos e Luiz B. Torres arrecadavam o dinheiro e doações em alimentos e os entregavam ao Monsenhor.
No dia 29 de dezembro de 1963, dia da Padroeira do município de Palmeira dos Índios, Monsenhor Macedo dá o seu último suspiro. Morreu sereno e com a certeza de ter cumprido a sua missão. A Princesa do Sertão parou nesse dia e no seguinte, quando foi sepultado no Cemitério São Gonçalo. Foi o maior enterro já visto na cidade. Deixou seu único livro: Meu Exame de Consciência ( Biografia- Serviços Gráficos de Alagoas. Sergasa- Maceió-AL- 2 edições- 1962) além de artigos no jornal O Índio- 1923).