Francisco Nunes Brasil

CADEIRA Nº 03

ACADÊMICO: Luciano Galindo Pimentel

CHICO NUNES, o maior repentista brasileiro, que Câmara Cascudo considera “o Bocage do repente nordestino”, nasceu em Palmeira dos índios, em 04 de Maio de 1953. Foi registrado como Francisco Nunes de Oliveira, depois optou por Francisco Nunes Brasil, e depois reduziu a Chico Nunes.
Poeta improvisador, seu nome ainda hoje é uma lenda e seus repentes permanecem na tradição da literatura oral. As histórias que precedem os versos e as destabocadas do Rouxinol da Palmeira percorrem bares, feiras livres, residências e até colégios.
Chico Nunes nasceu, viveu e morreu na rua Pernambuco Novo, hoje chamada Chico Nunes. Na preguiça carinhosa das calçadas, num lar pobre e na intimidade da cachaça e do mulherio das “casas de tolerância” ali situadas, ele se tornou famoso nos desafios e encontros dos repentistas.
Chico bebia no Bar Rancho Fundo. Fossa total, pois o dinheiro andava escasso e o mulherio também. Genésio Matos, dono do bar, aproximou-se, perguntando-lhe com interesse:
_ Qué que cê tem, Chico? Tá murcho.
_ Essa vida é uma merda, seu Genésio. Me dá um conhaque dupro aí.
_ Se cuida, Chico, a bebida tá te matando. Vai a um dotô, que ele te passa uns remédios. Cachaça, conhaque… tudo isso é veneno.
O poeta esqueceu os olhos na distância. Muita frustração deve ter passado por sua cabeça enquanto dizia devagar:
A medicina não cura
A dor da separação.
O tempo para pensar não foi muito. O mote estava lançado. Os versos esperaram apenas que ele tomasse a talagada, e foram saindo, obedientes, como sempre:
Minha existência é de horror
Meu sofrer é sem segundo
Por que eu vivo no mundo
Sem pai, sem mãe, sem amor?
Sou um triste sofredor
Não tenho consolação
Vou carpindo a solidão
Sofrendo grande amargura…
E a Medicina não cura
A dor da separação.

Eu não tenho mais parente
Sou um vate desprezado
Além de míope, cansado
Rouco, enfadado e doente
Faço prece ao Onipotente
Pra me dar a salvação:
“Livrai-me da tentação
Tirai-me dessa amargura!”
E a Medicina não cura
A dor da separação.
O poeta Chico Nunes gostava de se apresentar assim:
Nabucodonosor Jaciobá
Brasileiro da Costa Ouricuri
Por alcunha Rouxinol da Palmeira
Francisco Nunes Brasi.
Ou então:
Sou naturá de Alagoas
Nasci para ser cantador
Francisco Nunes Brasi
Poeta improvisador.
Como já disse Mário Lago, em seu livro “Chico Nunes das Alagoas”, Chico era um vagabundo, mas poeta; irresponsável, mas poeta; cachaceiro, mas poeta; pornográfico e grosso, mas poeta. Tudo que se falar dele tem que acrescentar “Poeta”, porque ninguém o foi mais do que ele.