Adalberon Cavalcante Lins

CADEIRA Nº 01

ACADÊMICO: Juarez Marques Luz

Adalberon Cavalcante Lins é patrono da Cadeira Nº 01 da Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes, por ser considerado um dos maiores, senão o segundo melhor romancista do Nordeste brasileiro, autor de romances históricos, quase ensaios: O Tigre dos Palmares e O Ninho da Águia.

Sua imaginação, por demais fulgurante, atingia os píncaros das montanhas da narrativa ficcionista, chegava às nuvens, ultrapassando-as, até.

Era delicado e rigoroso em pessoa e no estilo. Ainda não se fez, até hoje, uma acurada análise dos seus romances.

Adalberon Cavalcante Lins é natural de Palmeira dos Índios. Veio à luz do mundo no vigésimo sexto dia de novembro de 1907, saboroso fruto da árvore do amor de Oscar de Oliveira Lins e de Maria das Dores Cavalcante Lins.

Fez seus primeiros estudos com uma negra, descendente de escravos, e nas escolas do município, dentre as quais, a do romancista Graciliano Ramos de Oliveira, onde recebeu boas noções de língua portuguesa. Aos 16 anos foi a Recife, onde estudou na Associação Cristã dos Moços, ingressando, logo após, na Academia do Comércio de Pernambuco e no Ginásio Pernambucano.

Sugeriu-lhe Graciliano Ramos ler romances e livros de história. Tentou ser pintor. Nada deu certo. Freqüentou a Academia de Comércio de Pernambuco, recebendo o diploma de Contador. Permaneceu na capital pernambucana durante 10 anos. Estudou Direito em Maceió, onde recebeu o bacharelato. Especializou-se em Direito Tributário pela Faculdade de Recife.

Seu primeiro emprego foi na Firma Exportadora de Açúcar Alves Fernandes Irmãos, em Recife. Gerenciou um depósito de aguardente em Maceió. Depois, foi Secretário da firma “Força e Luz Nordeste do Brasil”; em seguida exerceu as funções de Secretário da Fazenda, em Maceió. Já em 1950, a convite do Governador, candidatou-se e foi eleito deputado estadual.

Aposentou-se pela Junta Comercial do Estado de Alagoas. Tornou-se um dos maiores bacharéis da OAB, seccional do Estado de Alagoas. Usando a advocacia, viu a prosperidade de sua família com uma nova atividade: a de fazendeiro, adquirindo duas propriedades: Ouro Verde e Nova.

Decidiu constituir uma família, unindo-se em matrimônio à dona Cora de Aguiar Porto Lins com quem teve seis filhos: Sônia, Galba, Oscar, Zaida, Adalberon e Diana.

A essa altura demonstrava interesse pela literatura. Inicialmente escreveu crônicas, utilizando os pseudônimos – J. Pancário e Comendador Bacurau. Suas crônicas deram origem ao seu primeiro livro: Coquetelismo no Sertão (Prêmio da Academia Alagoana de Letras – 1956).

Em 1958, editou “Curral Novo”, com os direitos autorais vendidos ao cinema. Em 1961, veio a lume “Juntas Comerciais no Direito Brasileiro” (Defesa de tese para a Cadeira de Direito Comercial da Faculdade de Direito de Alagoas). Ainda em 1961, escreveu “Férias” (paisagem social do Sertão Alagoano). Seu outro trabalho foi “Sidrônio”, em 1962, maior prêmio da Academia Alagoana de Letras.

Seguiram-se “Caminhos Incertos” (romance contendo 513 páginas, publicado em 1976, vencedor do prêmio Romeu de Avelar, conferido pela Academia Alagoana de Letras) e suas duas obras mais importantes: “O Tigre dos Palmares” e “ Ninho de Águia”.O primeiro, também romance histórico, baseado na história dos Palmares, maior prêmio do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, publicado em 1976. Já o segundo e seu último livro, Ninho de Águia, conta a saga de Delmiro Gouveia. Foi publicado em 1987.

Além de representar Palmeira dos Índios em muitas instituições, foi Membro Efetivo da Academia Alagoana de Letras; Sócio da União Brasileira de Escritores; Membro da Loja Maçônica Perfeita Amizade, grau 29, da Loja Grande Oriente; Sócio Honorário do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas; e Membro Efetivo da Academia Sergipana de Letras.

Manteve durante toda sua vida correspondências com os escritores Jorge Amado, Raquel de Queiroz, Valdemar de Souza Lima, Valdemar Cavalcanti, Aurélio Buarque de Holanda, Aristeu Bulhões, além de manter uma amizade íntima com Luiz B. Torres. Faleceu no dia 19 de janeiro de 1990, deixando para a posteridade suas obras e o seu estilo de vida.

Pequenas Considerações sobre duas de suas obras:

1. “O Tigre dos Palmares”

O livro “O Tigre dos Palmares” é o primeiro romance histórico do autor e, ao que se sabe, a primeira ficção ensaísta. Ensaio e história fazem o romance de Adalberon a ficção caminhar no leito da historiografia relacionada com os africanos em Pernambuco, desde as primeiras sementes negras desembarcadas na Mauricéia portuguesa, em 1538, até o desfecho histórico do Zumbi, em 20 de Novembro de 1695.

Indo mais além, envolve “O Tigre dos Palmares” problemas humanos, onde se mostra a exploração do patrão, servilizando o negro e, em contrapartida, a conquista da liberdade pela força, pelo sangue, pela violência…

2. “Ninho de Águia”

Elaborado com paciência beneditina, própria de um pesquisador, estruturado com a segurança responsável de um verdadeiro ficcionista é o romance “Ninho de Águia” embelezado com equilíbrio e a naturalidade dos diálogos, que segundo os grandes críticos da narrativa ficcionista, representam a grande característica de uma obra romanesca, onde encontramos o bilingüismo de Adalberon ao retratar o linguajar matuto e o escrever erudito.

Alegra-nos, sobremodo, se tenha tornado o ciclo dos Quilombos ficção nas mãos seguras do alagoano, de Palmeira dos Índios, Adalberon Cavalcante Lins, cujo nome já vale para um sucesso.

O escritor Adalberon Lins faleceu em 19 de janeiro de 1990, em sua fazenda, no município de Palmeira dos Índios, Alagoas.