Manoel Antônio de Oliveira Melo

CADEIRA Nº 20

ACADÊMICO: Judite Maria Rocha da Silva

Manoel Antônio de Oliveira Melo, filho do Major Sabino José de Oliveira, o primeiro Intendente Municipal eleito pelo voto popular da Comunidade Palmeirense, com apenas 20 anos de idade luta para dispor de um jornal com atividade permanente.
Segundo a tradição familiar, Manoel Antônio de Oliveira Melo se decidiu inicialmente pelo comércio, pois segundo seu pai era o meio mais infalível de alguém angariar bastante recursos para viver bem. Fazer jornalismo era, entretanto, a legítima vocação que trouxe de berço, talvez herança dos seus ancestrais.
Por isso no balcão, isto é, nas horas ociosas entre um freguês e outro, procurava ampliar seus conhecimentos através da leitura, sua fonte de cultura, pois tinha uma sede insaciável de saber. Dispunha de uma biblioteca para o tempo em que viveu e foi, no século passado, o único palmeirense que ao morrer deixou livros como herança.
Seu túmulo ainda existe no Cemitério São Gonçalo, na parte mais antiga deste campo santo, onde por ocasião dos dias de finados, a população costuma acender muitas velas bem defronte da capela. É aí onde a juventude palmeirense vai depositar seus votos na intenção de ter um jornal de duração perene.
Casado há cerca de cinco anos com Francisca Leopoldina de Araújo Cavalcanti de Melo, o casal teve quatro filhos: Emílio, Antônia, Valentina e o feto quando faleceu. Na época do óbito, o primogênito, de nome Emílio de Oliveira Melo, contava com quatro anos apenas. Manoel Antônio de Oliveira Melo nasceu para ser jornalista, por isso era capaz de transpor até o impossível, de começar do nada, vencendo todos os obstáculos sem esmorecer. Como não dispunha de recursos necessários para comprar o prelo completo, lançou-se à tarefa de fazer um de qualquer maneira, utilizando, para tanto, o material disponível. E para se dedicar inteiramente à causa, vendeu ao pai sua loja, para, livre da rotina comercial, dedicar todo o seu tempo à tarefa de criar uma tipografia.
Na vila de Palmeira dos Índios, na época, existiam em abundância muitas e robustas cajazeiras, de cujas cascas ele e amigos modelaram a tipagem, bastante para fazer funcionar a tipografia. Um trabalho de muita paciência.
Abastecido de muito material, cortou, primeiramente, as cascas das cajazeiras, esquadrejando-as direitinho e as dividindo em pequeninos cubos. Depois foi entalhando neles todas as letras do alfabeto, tanto maiúsculas quanto minúsculas, trabalho em que foi ajudado por irmãos e escravos capazes. Eram letras de vários tamanhos e formatos. Após dois anos de “paciência de Jó”, juntou bastantes tipos para fazer funcionar a tipografia.
Com quatro pedaços de madeira, fez a rama e a impressora propriamente dita, improvisando-a de uma prensa de mandioca, muito comum na época para desidratar a raspa da mandioca. Algumas dessas ramas e vários tipos ainda existem no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, em Maceió. Ele fez tudo. Só não o papel. O Museu Xucurus de História, Artes e Costumes, em Palmeira dos Índios, tem uma réplica dessa impressora. A tipografia funcionou maravilhosamente bem sob aplausos da população palmeirense. Até o capitão Francisco Joaquim da Silva, vereador e intelectual militante do foro da Comarca, ficou tão empolgado com a novidade, que mandou imprimir um folheto em homenagem ao Doutor José Alexandrino Dias Moura, então juiz de direito da Comarca de Anadia. Um exemplar deste folheto está arquivado no Museu Xucurus de História, Artes e Costumes.
Com a tipografia funcionando e com experiência comprovada na confecção de boletins, Manoel Antônio de Oliveira Melo se dispõe à impressão de um jornal, a quem deu o nome de “Interesse Público”. O fundador do primeiro jornal palmeirense, aos vinte e três anos de idade, morre vitima de sarampo.
Depois de Manoel Antônio de Oliveira Melo, tudo valia para se editar um novo jornal em Palmeira dos Índios. Houve até periódicos escritos totalmente à mão, trabalho de muita paciência e perseverança. O espírito empreendedor de Manoel Antônio de Oliveira Melo tem, ao longo desses anos, tornado os palmeirenses uns verdadeiros leões em busca de novos conhecimentos criativos, a ponto de a cidade ser conhecida como uma das mais cultas de todo o Estado de Alagoas.
O primeiro número do “Interesse Público” apareceu no dia 09 de agosto de 1865, numa quarta-feira. Foi um acontecimento realmente espetacular na então vila de Palmeira dos Índios. Os palmeirenses devem ter folheado o jornal com muito orgulho, já que nenhuma outra comunidade do interior alagoano dispunha de tal progresso cultural.
O segundo número saiu no dia 14 de agosto de 1865. No noticiário, a cada vitória retumbante da Esquadra Brasileira, sob o comando do Almirante Barroso, na batalha de Riachuelo. Esta notícia realça a qualidade de noticiarista do redator.
O terceiro número apareceu no dia 24 de agosto de 1865. Na primeira página está a irônica notícia da fuga de três presos do cárcere da Vila, os únicos existentes naquele momento, sob as vistas da guarda. Novamente a guerra contra o Paraguai mereceu matéria em toda uma coluna, desta vez para informar que, em face dos poucos que se apresentaram espontaneamente para a luta, os ministros imperiais haviam decretado o recrutamento obrigatório. Se a população masculina houvesse comparecido voluntariamente, o alistamento não seria por compulsão. Infelizmente, porém, teria que ser na marra, sob fiscalização severa da Guarda Nacional. Na terceira página, vem a notícia da prisão de alguns padres em Roma, Itália.
O último número do “Interesse Público” saiu no dia 22 de outubro de 1865. É todo ele um rasgado elogio ao Comandante Superior da Guarda Nacional, Manuel Lima da Silva Tavares, e ao Doutor Juiz de Direito da Comarca, João Francisco Duarte.
Na última página, infelizmente, aparece a notícia lamentável que anuncia a suspensão da publicação do jornalismo, desta data em diante. O fato de Manoel Antônio de Oliveira Melo ter sido atacado de sarampo, pode ter concorrido para isso.
Apenas por quatro números viveu o primeiro jornal palmeirense. Uma pequenina história, em verdade, mas cheia de muita garra e de muito heroísmo. Um exemplo grandioso de luta e muita força de vontade.
Manoel Antônio de Oliveira Melo tinha apenas 21 anos quando lançou o primeiro jornal de Palmeira dos Índios e faleceu aos 23 anos incompletos, em 30 de agosto de 1867.