CADEIRA Nº 12
ACADÊMICO: Everaldo Damião da Silva
Valdemar de Souza Lima nasceu no pequeno povoado de Salomé, hoje município de São Sebastião, cidade localizada na parte sul do Estado de Alagoas, no dia 20 de fevereiro de 1902, como filho de José Virgílio de Souza Lima, pequeno comerciante, agricultor e criador de semoventes, e de Josefa Leite de Souza Lima, professora pública estadual.
Valdemar de Souza Lima ficou órfão de pai ainda menino, quando seu pai, em 1914, faleceu vítima de câncer. Na época, o salário de sua mãe era insuficiente para o sustento da família (10 pessoas). E, para aumentar a renda familiar, sua mãe se submetia a ser transferida de cidade em cidade no interior do Estado. E foi assim que Valdemar morou em Viçosa, Sertãozinho (hoje Major Isidoro) e em Santana do Ipanema. Sendo que, enquanto sua mãe lecionava, ele a ajudava trabalhando no comércio, como Comerciário. Concluiu o curso primário em Santana do Ipanema. Durante o dia ele se dedicava à agricultura na Caatinga, juntamente com seu irmão mais velho, cultivando cereais, tubérculos, algodão e cuidando de um pequeno rebanho de cabras; à noite, estudava.
No ano de 1917, Valdemar Lima tentou aprender a arte de sapateiro com Manuel Santiago Reis, como se diz, um homem lorde, mas gago, cuja deficiência impedia um bom relacionamento, fato este que o levou a desistir do aprendizado desta profissão. Em 1918, ele foi operário na Panificação de Alfredo de Morais Sarmento, cuja jornada de trabalho era estafante. Nessa mesma época, matriculou-se na Escola Noturna do professor Domingos Gonçalves Lima, onde apreendeu as primeiras lições de escrituração mercantil. O curso noturno era “de graça”.
A partir de 1924, Valdemar Lima começou a escrever seus manuscritos apontando soluções para os problemas do sertanejo, mas seus escritos só foram divulgados no ano de 1933, no vespertino O Estado, com circulação em Maceió, acompanhados de algumas de suas reportagens.
Em 1929, deixou o trabalho na Panificação de Alfredo de Morais Sarmento e ingressou na empresa da viúva de Manuel Rodrigues da Rocha, da qual o professor Domingos Gonçalves Lima era o guarda-livros (contabilista). Seu trabalho era com tecidos, peles miúdas e beneficiamento de algodão. E, com muito esforço e perseverança, Valdemar Lima conseguiu o diploma de Técnico em Contabilidade. Em 1930, estabeleceu-se por conta própria na mesma localidade, tendo algum êxito de início. No ano seguinte, deixou a cidade de Santana do Ipanema e fixou residência em Palmeira dos Índios. Nesta cidade conheceu a jovem Luíza Cavalcanti Lima, filha do Tenente Júlio Correia de Amorim, de tradicional família palmeirense. Casaram-se em 1931 e desta união nasceram seis filhos: Maria Auxiliadora (Fifi), Maria Luíza, Hugo José, Iêda, Vívian e Ana Maria. Posteriormente, o casal adotou mais uma criança, por nome de Maria José Sônia de Barros.
Com a ajuda do sogro, tornou-se comerciante, mas, por causa da seca de 1932, com a economia do sertão reduzida a zero, seu comércio foi atingido. Então, ele desistiu de ser comerciante, liquidou a casa comercial, pagou os credores e fechou as portas.
Em 1933, desembarcou em Maceió para trabalhar na firma Tércio Wanderley & Cia. e, nesse mesmo tempo, iniciou a vida como jornalista na capital do Estado de Alagoas, escrevendo no jornal O Estado. Um ano depois, em 1934, por causa da frágil saúde de uma de suas filhas, retomou para o sertão, passando a residir com sua família em Palmeira dos Índios, com emprego garantido como Secretário e Tesoureiro da Prefeitura Municipal.
Graciliano Ramos de Oliveira, ex-Prefeito da cidade, na época dirigindo a Instrução Pública no Estado, vem à Terra dos Xucurus e lhe oferece o cargo de Inspetor das Escolas Primárias na localidade, com ganho aumentado em cinqüenta mil réis por mês.
Em 02 de dezembro de 1934, Valdemar Lima submeteu-se a concurso público e é nomeado Tabelião Público. Com a aposentadoria do tabelião Cícero Pereira, do Cartório do 1º Ofício da comarca de Palmeira dos Índios, seu sogro comprou o referido Cartório de Registro de Notas e deu-lhe de presente.
A partir de 1934, assumiu o compromisso de ser colaborador da Gazeta de Alagoas e do Jornal de Alagoas, em Maceió, e do Diário de Pernambuco, em Recife, como correspondente do município de Palmeira dos Índios. Foi fundador do jornal “O Panema”, em Santana do Ipanema, como também do “Correio Palmeirense”, em Palmeira dos Índios.
Foi um dos fundadores da Sociedade Beneficente de Palmeira dos Índios, mantenedora do Hospital Regional Santa Rita e Maternidade Santa Olímpia, juntamente com Noé Simplício do Nascimento, João Narciso de Oliveira, João Neto, Luiz B. Torres, entre outros.
Em 1959, chega ao seu conhecimento que a residência onde Graciliano Ramos viveu e escreveu o romance Caetés e os famosos Relatórios ia ser demolida, em Palmeira dos Índios. Indignado com esta notícia, protestou contra tal abandono. Viajou para Maceió e, numa sessão da Academia Alagoana de Letras, denunciou a criminosa intenção e pediu apoio dos acadêmicos. Apenas um membro da Academia, o jornalista e crítico literário Arnoldo Jambo, se dispõe a isso e o faz com desassombro, através do veículo que dirige – Jornal de Alagoas.
Funda-se, finalmente, a Casa-Museu de Graciliano Ramos, em 05 de outubro de 1973. Já em 1967, após sua aposentadoria como Tabelião Público, Valdemar Lima deixou a cidade de Palmeira dos Índios e foi morar em Brasília, em virtude de lá já residir alguns de seus filhos. Mesmo apaixonado pelo Planalto Central, não esqueceu Palmeira dos Índios, pois, anualmente, no período de verão, durante quatro meses, retomava ao sertão.
Em razão de sua velha amizade com o escritor Graciliano Ramos, na década de 20, com quem manteve estreito relacionamento na cidade de Palmeira dos Índios, entrou para o mundo da literatura. No entanto, Valdemar Lima escreveu apenas duas (2) obras, “Graciliano Ramos em Palmeira dos Índios”, ensaio publicado em 1971, bem recebido pela crítica literária, e que teve uma 2ª edição em 1980, e “O Cangaceiro Lampião e o IV Mandamento”, romance editado em 1979.
Em seu primeiro livro, aos 69 anos de idade, Valdemar Lima, em sua originalidade inventiva, diferentemente dos demais biógrafos do Mestre Graça, pesquisou a ascendência do escritor, sua infância, sua juventude e o princípio de sua maturidade, registrando depoimentos importantes de amigos e conhecidos acerca do ambiente, do meio e da atmosfera que cercou a formação intelectual e humana de Graciliano Ramos.
Valdemar de Souza Lima faleceu em 17 de julho de 1987, aos 85 anos de idade, em Brasília, cidade que decidiu morar quando se aposentou. E, lá, no Planalto Central, foi sepultado. Durante 18 anos, radicado no Distrito Federal, foi o elo entre a Capital do Brasil e o município de Palmeira dos Índios. Lá, no Centro do país, na qualidade de “jornalista-matuto”, como se titulava, não ensarilhou as armas. Como cronista, poeta, jornalista, tabelião e escritor, rebelde, imprevisível, obstinado e fixo em suas opiniões, nunca deixou de revelar sua preocupação com os problemas sociais de sua região sertaneja. Mas, também Valdemar Lima era humano, cordial, prestativo, reformista e leal. Como escritor não lhe faltavam independência, imaginação, originalidade e racionalidade.